Por uma epistemologia do Ensino Religioso

"A despeito do Ensino Religioso (ER) no Brasil ter sido oferecido desde o período colonial sob os auspícios da Igreja Católica, conforme a orientação jesuítica e com finalidade especificamente proselitista e evangelizadora, a discussão sobre esse componente da grade curricular, hoje, ainda alvo de controvérsias no que diz respeito a sua relevância no âmbito da escola pública laica, não deveria se pautar pelo lastro histórico de confessionalidade, pois já existem modalidades de oferta dessa disciplina que negam o privilégio de qualquer discurso religioso, em favor de uma proposta que visa à compreensão da diversidade e preservação do pluralismo de ideias e de crenças religiosas.

Em parte, essa controvérsia tem sua razão na lacuna quanto à definição do objeto e da abordagem metodológica do ER. Problemas ligados à formação dos educadores responsáveis pela condução da disciplina, cuja especificidade exige sua vinculação a uma grande área de estudos. Qual seria essa área?

Nesse texto, propomos que a disciplina ensino religioso deve ser oferecida por especialistas com formação na área de ciência da religião. Essa tese se desdobra em duas outras subteses: 1) No Brasil, a ciência da religião é uma área “jovem” cuja ênfase recai sobre abordagens empíricas da religião (advindas, principalmente, da teologia da libertação e das ciências sociais como espectro disciplinar privilegiado para leitura da “realidade”) e 2) o campo de pesquisa da ciência da religião no Brasil exige uma abordagem cujos marcos teóricosmetodológicos prestigiem-no descritivamente, comparativamente e, por fim, conjugando complementarmente o aspecto objetivo e subjetivo do fenômeno religioso. Isso posto, defende-se aqui uma abordagem fenomenológica da religião, que reconhece o valor histórico-social e cultural da religião, assim como o traço simbólico que confere aos sujeitos religiosos dispositivos para a vivência da religião, pragmática e ontologicamente, promovendo entre os educandos o conhecimento necessário para o fortalecimento de noções como o reconhecimento da alteridade e o respeito pela diferença. 

É preciso esclarecer que o sentido em que usamos o termo fenomenologia, como veremos adiante, é o sentido do holandês Kristensen, para quem interessa “o olhar” para a religião, a partir dos seus próprios termos, ou seja, olhar atento ao discurso interno à religião e não no sentido de uma fenomenologia interessada numa característica essencial das religiões."

O texto acima é a introdução de um artigo que publiquei, intitulado "QUESTÕES EPISTEMOLÓGICAS DO ENSINO RELIGIOSO: UMA PROPOSTA A PARTIR DA CIÊNCIA DA RELIGIÃO".

Na sequência, os subtítulos são:

Ciência da Religião, o que é?
Ciência da Religião no Brasil
O Ensino Religioso e a abordagem da religião como fenômeno.

O artigo visa contribuir ao debate sobre como estruturar o componente curricular Ensino Religioso, do ponto de vista teórico e metodológico, apontando como campo de conhecimento base para tal, a área de Ciência da Religião. Um debate que já tem sido feito e que merece ser ampliado, com vistas ao fortalecimento, tanto da área quanto dessa "disciplina". 



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