As damas do Planalto

Nesse tempo em que tenho vivido pelas bandas estadunidenses muitas coisas tem me chamado à atenção. Dentre as tantas, uma delas é o fascínio que muitos norte-americanos e americanas possuem pelos anos 1950. Não raro encontramos restaurantes com o tema da decoração baseado nessa década. Um festival de peças de carros da época, fotos com ícones do cinema tipo James Dean e Merilyn Monroe, discos de vinil e vitrolas, quadros de jovens donas de casa encantadas com a vida moderna e seus novos utensílios para o lar, além de diversos signos dos anos dourados.

Enfim, um verdadeiro culto ao
american way of life. Um culto saudosista que exalta a memória do pós-guerra e do desenvolvimento industrial daquele período, que aqueceu a vida econômica da pequena classe média branca e trouxe de volta ao lar, as mulheres que tinham antes disso saído para trabalhar nas fábricas enquanto seus maridos estavam na guerra. É, parece que esse retrato de família tradicional também cola aqui nos "Istaites", ao ponto de despertar a saudade de muitos... e muitas!


Essa nostalgia pode ser notada ainda na maquiagem que algumas mulheres gostam de fazer, com batons vermelhos, delineadores marcando os olhos, com aqueles rabinhos puxadinhos (eu não entendo bulhufas de maquiagem!) e cílios muito evidentes. Há também um certo culto as roupas do estilo anos 50, especialmente, as femininas, com saias longas e rodadas, cintura bem apertada e tecidos de bolinhas. Bolinhas brancas no preto, bolinhas brancas no azul, bolinas brancas no vermelho. Bolinhas... muitas bolinhas. Bolinhas para todos os gostos.

E, de repente, me caiu uma ficha: e não é que as mulheres do (des)governo atual também gostam de bolinhas? Uma tendência, gente. Elas são vintage. Elas estão super na moda. Mais do que isso: elas estão ideologicamente alinhadas com o presidente delas, que aprecia visceralmente tudo o que o governo norte-americano diz e faz. Se Bozo faz lives tomando notas do discurso de Trump, elas, as mulheres de Bozo exaltam a memória desses maravilhosos anos 1950, quando as mulheres eram decididamente “lindas, recatadas e do lar”, perfeitamente vestidas de bolinhas.

As damas do Planalto Damares Alves (Ministra dos Direitos Humanos), Regina Duarte (Secretária especial de Cultura) e Michelle “Bozonaro” (esposa do #EleNão) são “a cara” do que os homens do (des)governo compreendem como o que há de melhor e o que, possivelmente, pensam muitos outros homens brasileiros.

Elegantemente vestidas de bolinhas, sorridentes, acríticas e engajadas com a causa da preservação da família e dos valores tradicionais da cultura brasileira, elas representam nobres interesses. O interesse de que a educação e a cultura não sejam para todos e todas, que meninos vistam azul e meninas rosa, que as mulheres permaneçam em casa zelando pelas tarefas domésticas e, se saírem para o trabalho, que recebam remuneração inferior a dos homens, que aceitem a condição de serem objeto do desejo irracional deles (que justifica a violência e o aumento das taxas de feminicídio) e que, finalmente, não se engajem em movimentos feministas. Afinal, o feminismo além de não permitir que as mulheres se depilem, só é praticado por mulheres feias: as da esquerda!

Então, é isso gente! As damas do Planalto estão na moda: lindas, recatadas e de bolinhas!





Elisa Rodrigues
Princeton, March 12, 2020


Fotos: Ellesbeth Hudson. https://br.pinterest.com/pin/433823376583050825/. 12 de março de 2020.


Comentários