Quando as lideranças religiosas são como lobos


Eu simplesmente não consigo parar de pensar no horror que é ser estuprada enquanto criança. Eu simplesmente não consigo e não posso admitir que existam pessoas mais interessadas na defesa de uma vida, que sequer tornou-se gente, enquanto uma menina de 10 anos, que há 10 anos está viva e há 10 anos tem seu corpo violado por alguém que deveria protegê-la é motivo para uma certa igreja e uns certos igrejeiros levantar bandeira contra o aborto

Não, ela não era uma mulher que se insinuava.

Não, não está em questão se ela se portava bem.

Não, não há justificativa para que se desculpe a mente doente de um homem que viola o corpo de uma criança.

Não, mesmo que fosse mulher sensual e de saia curta, seu corpo ainda lhe pertenceria.

Não, a igreja, as pessoas religiosas e suas lideranças não detém mais o monopólio da exegese bíblica, da fabricação de doutrinas torpes e imorais, tampouco do controle dos NOSSOS corpos.

Não, nós mulheres, mães, meninas, filhas, tias, avós, domésticas, operárias, mães solo, professoras, putas... NÃO SOMOS PROPRIEDADE. Somos pessoas com direitos.

A decisão sobre nossas vidas não cabe à igreja, não cabe à medicina. Quem legisla sobre nossos corpos?

Somos nós. Nós devemos ser ouvidas sobre o que queremos. Nós devemos ser ouvidas sobre o que desejamos, sonhamos, planejamos, intencionamos, decidimos.

E vocês, pessoas de bem, que oram, que rezam, que vão aos cultos e celebrações dominicalmente e ajoelhados(as) clamam pelo poder do Espírito Santo e a iluminação de alguma divindade, abram seus ouvidos e escutem: Deus possivelmente deve estar querendo lhes lembrar de um ensino simples que o Jesus que ressuscitou e sobre o qual tropegamente vocês falam, um dia proclamou: “Deixai vir a mim as crianças, não as impeçais, porque o Reino de Deus é para os que são como elas” (Evangelho de Marcos 10, 13)

Uma criança cuja infância e os sonhos foi roubada não pode ser submetida à gravidez indesejada, resultado de uma agressão tão vil. Somente um homem ou alguém desprovido de qualquer capacidade de empatia poderia sugerir o prosseguimento dessa gravidez e a posterior doação do fruto desse abuso para a adoção. Sob hipótese alguma uma menina se recuperaria da infernal lembrança de ter engravidado e parido aos 10 anos, como consequência da violação de seu corpo. Essa é uma marca que não se apaga. Nem do corpo, nem da alma.

O Deus que eu imagino existir não se comprazeria em tamanha dor.

O Deus que eu imagino existir está de braços abertos para essa menina e a espera como menina.

Oxalá algum dia ela possa ser apenas MENINA.


#Resistir

#EducarParaTransformar


Elisa Rodrigues

18 de agosto de 2020

Comentários

  1. Sou cristã, creio em Jesus Cristo como meu único Salvador. Este cenário que vivemos estes dias demonstra total falta de conhecimento, de empatia e até mesmo de amor, penso que este caso nem era para estar na mídia esta criança não precisava e nem precisa continuar sofrendo de tantas formas de violência, este grupo de pessoas se quer pensaram na dor, nos traumas que esta criança vai carregar por sua vida. Não pensaram também que se esta gestação fosse levada até ao o final o peso que este bebê iria carregar por toda sua vida "sou fruto de um estrupo, de uma violência". O aborto não era para ter acontecido porque não era para ter acontecido o ABUSO, a VIOLÊNCIA , o ESTRUPO, nenhum ser humano deveria passar por isto.

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  2. É um absurdo tamanho crueldade destes seres "humanos", é de perder a sanidade mental! Hipócritas ... e o poder publico cada dia mais longe ... Acorda mulher... acorda humanidade... acorda Brasil...

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